JUSTIÇA
Associação de pais aciona
Ministério Público contra peça sobre sexo
Uma das escolas que receberam
espetáculo foi alvo de ameaças
(*) Pedro Marra
A Associação
de Pais e Alunos de Instituições de Ensino no DF (Aspa-DF) decidiu acionar o
Ministério Público devido à peça teatral O Auto da Camisinha. O espetáculo tem
sido apresentado em escolas públicas para falar com humor sobre sexo e doenças
sexualmente transmissíveis. O alvo são adolescentes a partir de 14 anos.
“Vamos
acionar duas frentes do MPDFT. Uma delas é a Promotoria de Defesa da Educação,
que verificará na legislação se houve abuso. Já a Promotoria da Infância poderá
identificar violação ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Nós entendemos
que ensinar os filhos sobre um assunto tão sensível é prioridade dos pais”,
afirma Luis Claudio Megiorin, presidente da Aspa.
Ele cita o
artigo 4 do Estatuto da Criança e do Adolescente: “É dever da família, da
comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. ”
Para a
Associação de Pais e Alunos, o problema cresce por se tratar de famílias
carentes. “Isso aumenta a vulnerabilidade. É como se as crianças não tivessem
pais e princípios. A escola ensina como se fosse a verdade absoluta, o único
caminho. Eu duvido que numa abordagem dessa alguém fale em abstinência. Ou
ainda que desencoraje os alunos a ter relação sexual antes da fase adulta. A
escola está se tornando um território que pode tudo”, critica.
Discussão
A peça
passou a ser alvo de críticas a partir de postagens nas redes sociais. Em uma
delas, há uma foto de um trecho do espetáculo, no final da peça, em que um ator
aparece portando um pênis inflável gigante. O objetivo do adereço é ensinar aos
alunos a usar camisinha.
“Quando os
pais acham que os filhos estão na escola aprendendo geografia, história, inglês
e língua portuguesa, estão assistindo à peça teatral ‘pega, pega na minha
rola’”, diz uma publicação, ao se referir a uma música do espetáculo.
Escola recebe ameaças
Uma das
escolas que receberam a peça é o Centro de Ensino Fundamental 3 de Planaltina.
“Estamos recebendo ameaças por telefone e palavras de baixo calão. Mas estamos
à disposição para falar com a imprensa pessoalmente”, relatou um representante
do centro de ensino.
A música
Responsável
pela peça, a Companhia Hierofante explica que um dos motivos da polêmica é um
trecho de uma música da premiada cantora nordestina Selma do Coco. “A Rolinha,
de 1996, utiliza de humor em um ritmo para remontar as origens do quilombo
brasileiro. O vídeo divulgado consta apenas o verso ‘Pega, pega a minha rola’
sendo que, no espetáculo, a música é cantada inteira”, afirma o diretor e ator
da peça, Anderson Floriano.
Ele
reconhece que o número já despertou reações negativas. “Já apresentei a peça
640 vezes em 23 anos. Já vi espectadores pedindo para parar. Há quem se divirta
e quem ache absurdo, mas nosso papel é provocar a reflexão”, completa.
Floriano
ainda explica o motivo da linguagem direta. “Cuidamos para que não seja vulgar,
mas temos uma linguagem direta. Ensinamos o uso da camisinha com um pênis
inflável gigante. Muito diferente das aulas de educação sexual que utilizam uma
banana para exemplificar”, analisa.
Para o ator,
os alunos têm maturidade para assistir ao espetáculo. “Todo adolescente tem
esse nosso linguajar comum, da fala direta. Tanto que já fizemos apresentações
para meninas grávidas com apenas 9 e 11 anos”, explana.
A peça tem
suporte do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) para ser apresentada em 35 vezes. Na
agenda da companhia de teatro estão Sobradinho, Sobradinho II, Planaltina e
Vale do Amanhecer.
Alunos do
Centro de Ensino Fundamental 5 de Sobradinho assistiram ao Auto da Camisinha na
última quarta-feira (9), no auditório da escola. Segundo a coordenadora da
escola, Marina Pereira, a peça demonstra de maneira adulta um assunto cada vez
mais cotidiano na vida dos adolescentes. “Eles sabem como fazer e fazem sexo,
mas não têm noção das consequências. É uma atividade muito importante dentro da
escola”, explica.
(*) Pedro Marra/ Especial
para o Jornal de Brasília - Fotos: Kleber Lima
Nenhum comentário
Postar um comentário