EDUCAÇÃO
Alunos
da EJA passam por desafios para se manter na escola
O animador de eventos
Genilson Lopes optou pela modalidade de ensino a distância pela flexibilidade
de horários. Aos 40 anos, ele sonha em se especializar em marketing de
entretenimento
(*) GABRIELA MOLL
Aos 3 anos de idade, Genilson Lopes recebeu do irmão o apelido que levaria para a vida profissional. “Gostei e sou chamado assim desde sempre”, conta o morador de Vicente Pires, conhecido como Palhaço Psiu.
O
ofício de animador começou cedo, aos 10 anos, como brincadeira, e, desde os 20
anos, como forma de sustento. Como precisava trabalhar para sobreviver, ele
largou a escola na 5ª série do ensino fundamental, quando ainda vivia no
orfanato em que morou até completar 18 anos.
Genilson Lopes, de 40 anos, cursa a EJA na modalidade a distância. Sonha
em fazer faculdade e se especializar em marketing de entretenimento. Foto:
Andre Borges/Agência Brasilia
Hoje,
aos 40 anos, Genilson tem o sonho de levar o talento para a diversão um pouco
mais além. Ele quer fazer faculdade e se especializar em marketing de
entretenimento. “Assim, agrego meu conhecimento como palhaço à vontade de
crescer”, planeja.
Para
conquistar o sonho da faculdade, em 2015, o animador de festas ingressou na
educação de jovens e adultos (EJA) pela modalidade do ensino a distância.
Ele
está na segunda etapa do ensino médio, equivalente ao segundo ano no ensino
regular. “É difícil estar novamente em sala de aula, temos receio, medo de
passarmos por constrangimentos por sermos mais velhos”, confessa.
“A caminhada é árdua, mas nunca é tarde
para aprender”Genilson Lopes, aluno da segunda etapa do terceiro segmento da educação
de jovens e adultos
Além
da força de vontade e do incentivo da namorada, o estudante conta com outro
apoio fundamental para continuar. “Os professores são muito atenciosos, sempre
nos motivam a não desistir quando bate a preguiça ou quando estamos
desanimados. É isso o que nos fortalece”, resume.
Na
educação a distância, os docentes estão disponíveis para tirar dúvidas por
e-mail e, no caso de complicações, pessoalmente, em monitoria diária que ocorre
no Centro de Estudos Supletivos Asa Sul (Setor de Grandes Áreas Sul, Quadra 602).
A
unidade da Asa Sul é a única das 122 escolas que oferecem educação de
jovens e adultos no DF que também tem ensino a distância.
Atualmente, 2,1 mil pessoas são atendidas na modalidade — 800 no fundamental e
1,3 mil no médio.
“A
caminhada é árdua, mas nunca é tarde para aprender”, acredita o aluno. A
previsão é que ele termine o ensino médio no primeiro semestre de 2018.
Estudantes da EJA presencial conciliam o trabalho e a escola
A dificuldade de conciliar estudos e trabalho também faz parte da rotina
da empregada doméstica Maria Luzia de Deus, aluna do EJA na Escola Classe 16 de
Sobradinho. Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília
O
ensino a distância foi determinante para Genilson pela flexibilidade dos
horários, que lhe permite dedicar-se aos estudos e à profissão. “Além do que,
acho mais simples do que estar em sala de aula”, elenca o estudante, que também
trabalha como motorista durante a semana.
A
dificuldade de conciliar estudos e trabalho também faz parte da rotina da
empregada doméstica Maria Luzia de Deus. Aos 48 anos, ela decidiu retomar os
estudos interrompidos na 4ª série do ensino fundamental pela vontade de
aprender coisas novas. “Via todo mundo estudando e eu ficava intrigada” conta.
Em
2017, ela ingressou na terceira etapa do primeiro segmento na Escola Classe 16
de Sobradinho, onde estuda das 19 às 22 horas. Desde que entrou na unidade, a
moradora da região de Nova Digneia abriu mão de outros afazeres e passou a
dormir mais tarde, mas continua acordando no mesmo horário para ir ao trabalho,
às 5 horas. O marido estudou até o segundo ano do ensino médio e está desempregado.
“Depois
da aula faço os deveres e arrumo as coisas. É puxado, mas vale a pena”,
confessa Maria Luzia, que de vez em quando pede ajuda para os três filhos para
concluir as tarefas.
“As dificuldades de aprendizado são
exatamente as mesmas das crianças, o que muda é a maturidade: o que levamos uma
semana para ensinar para uma criança, eles aprendem no mesmo dia”Valdines Barbosa, coordenadora
pedagógica do EJA na Escola Classe 16 de Sobradinho
Os
desafios enfrentados por ela são comuns aos estudantes dessa faixa etária, como
explica a professora Gizely Ribeiro Porto. “Eles têm problemas inerentes à vida
adulta, como administrar a casa, filhos, coisas para resolver no trabalho.
Levamos tudo isso em conta”, avalia a professora das etapas iniciais do primeiro
segmento.
Como
o programa pedagógico para jovens e adultos prevê esse tipo de obstáculo,
nenhum aluno reprova por falta. “Se o estudante tiver aptidão no nível de
aprendizagem, ele pode passar para a próxima etapa”, acrescenta Gizely.
Ler
receitas e aprender as medidas são os motivos que levaram o maranhense Cláudio
Roberto de Alcântara, de 33 anos, a assistir às aulas da professora Gizely.
Funcionário da escola desde 2015, o auxiliar de serviços gerais sonha em ser
cozinheiro inspirado pela mãe, que era merendeira.
Quando
tem um tempo no trabalho na unidade de Sobradinho, ele corre para aprofundar o
conteúdo com a educadora. “O que mais gosto de fazer é ditado”, conta o
estudante. Ele largou a escola aos 13 anos para trabalhar.
Para
prender a atenção dos alunos, a professora de ciências Aline Andrade Rosa, que
dá aula para os estudantes da quinta à sétima etapa do segundo segmento, gosta
de levar slides com figuras e atividades lúdicas. “Eles são mais interessados,
estão aqui porque querem muito”, confirma.
Para prender a atenção dos alunos, a professora de ciências na Escola
Classe 16 de Sobradinho Aline Andrade Rosa gosta de levar slides com figuras e
atividades lúdicas. Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília
A
coordenadora pedagógica do primeiro segmento na unidade de Sobradinho, Valdinês
Barbosa, ressalta o interesse como característica principal dos estudantes
dessa faixa etária. “As dificuldades de aprendizado são exatamente as mesmas
das crianças, o que muda é a maturidade: o que levamos uma semana para ensinar
para uma criança, eles aprendem no mesmo dia.”
Ela
conta que a maioria vem direto do trabalho e que fatores como a rotina de
trabalho e o cansaço aumentam os atrasos e a evasão dos estudantes. Para tentar
evitar os casos de evasão, a coordenação da escola trabalha com palestras
motivacionais e com a oferta de cursos profissionalizantes.
Educação de jovens e adultos existe no DF desde 1996
A
educação de jovens e adultos existe no DF desde 1996. A modalidade foi criada
para atender quem quer retomar os estudos e reconhecer a educação como direito
básico. A idade mínima para ingressar no fundamental é de 15 anos. Para o nível
médio, o estudante deve ter pelo menos 18.
O
ensino é dividido em três segmentos. O primeiro e o segundo são formados por
quatro etapas, correspondente aos anos iniciais (alfabetização) e finais do
ensino fundamental, respectivamente. O terceiro segmento é composto por três
etapas, referentes ao ensino médio. Em 2016, 50.963 alunos foram matriculados
na EJA.
(*) FONTE: GABRIELA
MOLL - EDIÇÃO: PAULA OLIVEIRA – FOTOS: Andre Borges, Toninho Tavares /Agência Brasília
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