SOBRADINHO: Estudante vence câncer e cria página de motivação em rede social
'Câncer
lavou minha alma', diz jovem; ela foi curada de linfoma em 2014.
Ela tem 15
mil seguidores e recebe mensagens dos EUA e Canadá.
(*) Jéssica
Nascimento
Estudante
Luciana Calazans fez um ensaio fotográfico para divulgar a página Continuar
Sorrindo, no Facebook (Foto: Luciana Calazans/Arquivo Pessoal)
A descoberta
de um linfoma (câncer) na amígdala esquerda levou a estudante de psicologia
Luciana Calazans, de 22 anos, a fazer uma reflexão que culminou na criação de
uma página no Facebook para "levar fé, alegria e solidariedade para as
pessoas". Moradora de Sobradinho, no Distrito Federal, ela já conquistou
15 mil seguidores, incluindo pessoas de outros países, no projeto
"Continuar Sorrindo", que existe desde 2013.
O câncer foi
descoberto em julho de 2013. Luciana conta que sentiu um incômodo estranho na garganta, algo muito diferente de
uma irritação. Desconfiado da doença, um otorrino pediu para que a jovem
fizesse uma biópsia no Hospital de Base.
"Fiquei
cinco dias internada, esperando o resultado da biópsia, convivendo com pessoas
que estavam sofrendo muito, cada uma com uma enfermidade diferente e pior que a
outra. Todos eram guerreiros que lutavam muitas vezes sem apoio de familiares.
Durante esses dias, amadureci e aprendi muito. Jamais tinha visto a realidade
de um hospital público, muito menos vivido algo parecido antes."
Com o
resultado, veio a surpresa. Luciana estava com linfoma plasmoblastico aos 20
anos. A estudante diz ter recebido a notícia como ''um murro na cara''.
"Fiquei sem chão, sem fala, não conseguia raciocinar direito, era difícil
e tenso pensar que aquilo estava acontecendo comigo, que eu estava com um
câncer. Achei que ia morrer, chorei muito, foi bem dolorido."
Luciana
também reuniu outros pacientes de câncer para o projeto (Foto: Luciana
Calazans/Arquivo Pessoal) (Foto: Luciana Calazans/Arquivo Pessoal)
"Aprendi
a ser mais humana e tratar todos com igualdade. Não sabemos o dia de amanhã. Os
pacientes chegavam na primeira sessão da quimioterapia abatidos e sem
esperança. Eu sentava e explicava que era possível desapegar do cabelo e que
tudo aquilo era uma fase."
"Fiquei sem
chão, sem fala, não conseguia raciocinar direito, era difícil e tenso pensar
que aquilo estava acontecendo comigo, que eu estava com um câncer. Achei que ia
morrer, chorei muito, foi bem dolorido"
Luciana
Calazans
estudante
Durante o
tratamento, Luciana publicava mensagens de otimismo e informações sobre a
doença, todos os dias em suas redes sociais pessoais. Os amigos, emocionados
com os relatos da jovem, a encorajaram a criar a página, que recebeu o nome
"Continuar Sorrindo". "Foi ai que eu pensei: 'por que não?'
Quero levar para o mundo o que eu venho aprendendo a cada dia."
Com a ajuda
do amigo publicitário Thiago Macedo, de 29 anos, Luciana "colocou a mão na
massa" e criou a página. Para a divulgação, os jovens desenvolveram
camisetas com uma logormarca do projeto. “A princípio, não tínhamos a ideia de
vendê-la, mas todo mundo nos procurou querendo uma", diz.
Amigos da
moradora de Sobradinho, Luciana Calazans, rasparam a cabeça em solidariedade à
jovem (Foto: Luciana Calazans/Arquivo Pessoal)
A camiseta é
vendida por R$ 25, e o dinheiro é repassado para a Associação Brasileira de
Linfoma e Leucemia (Abrale). Cabelos, brinquedos, livros e materiais
hospitalares, como agulhas e luvas, também são doados para hospitais públicos
de Brasília.
"Meu
pré-projeto na faculdade foi sobre a Abrace (entidade que presta assistência a
crianças e adolescentes com câncer)'. Eu me envolvi demais fazendo esse
trabalho. Quando eu descobri que a Luciana estava com câncer, eu pensei se não
poderia usar a base dele para montarmos algo", conta o publicitário que
faz toda a parte gráfica da página.
Diariamente,
são publicadas mensagens que levam fé e motivação para as pessoas e histórias
de pacientes que lutam contra a doença. Luciana diz que o objetivo é trazer
mais esperança para o cotidiano de quem precisa. "Já recebi mensagens de
pessoas que estavam passando por uma forte depressão. De alguma forma, consegui
ajudá-las."
Com o tempo,
o projeto começou a receber mais mensagens, inclusive de internautas de países
como Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia. "Não esperava mesmo que eu
fosse atingir pessoas de tão longe e criar amizades. Considero como uma ponte
de amor, entende? Fiz a página para ajudar. Na verdade, sou ajudada
diariamente."
Luciana
Calazans, de 22 anos, posa no Parque Jequitibás, em Sobradinho (Foto: Luciana
Calazans/Arquivo Pessoal)
Mudança
"Eu
parei de reclamar de tudo, agora só agradeço. Sou mais otimista, fortaleci a
minha fé. Hoje, sou muito grata. Nada acontece por acaso. Se eu tive câncer foi
por um motivo", diz.
"Me
sinto mais viva, mais agradecida. O linfoma mudou também a minha família,
estamos mais unidos. Ele veio para somar, para me modificar."
A jovem
afirma que perdeu diversos amigos vítimas da doença. Mesmo assim, ela acredita
que a batalha não foi perdida. "A morte foi uma forma de vencer, sabe?
Como disse, nada é de propósito. Estamos aqui para evoluir. Esse é o anseio da
nossa alma. Quanto mais profundo o aprendizado, maior a evolução e o poder de
cura."
(*) Por
Jéssica Nascimento/ G1-DF
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