COLUNA TEXTOS & TEXTOS
UMA MANHÃ DE FÚRIA
Meu compromisso no dia seguinte, logo pela manhã, era ir ao
Plano Piloto, com horário marcado para chegar e tudo. Se posso evitar, marco
sempre os compromissos para o período da tarde, quando o trânsito nas vias do
DF costuma estar mais tranquilo. Não foi possível dessa vez, então lá ia eu
enfrentar o Monstro do Engarrafamento.
Um dia antes, já fiquei pensando no aborrecimento de ter que enfrentar o engarrafamento de carros até a Ponte do Braghetto. Se não acontece nenhum acidente entre o Balão do Colorado e o Balão do Torto, o fluxo de automóveis, ônibus, motos e caminhões costuma ser até rápido; o problema é que quase sempre acontece alguma merda e o trânsito trava. Geralmente é um caminhão desgovernado que desce ladeira abaixo fazendo estragos. Outras vezes, uma moto não encontra espaço suficiente entre a fileira de carros e a tragédia está posta. Ônibus quebrados à beira da pista costumam congestionar o trânsito também. Ônibus quebrando durante o trajeto é coisa corriqueira, então já viram.
Não deu outra. No dia seguinte lá estava a tira de carros
indo da entrada de Sobradinho até perder de vista. Saí do Grande Colorado para
deixar minha esposa no trabalho, em Sobradinho I, e fui maquinando que a melhor
estratégia seria pegar a DF-001 até o Paranoá, descer até a beira do Lago e
contorná-lo até a Ponte do Braghetto. A distância é bem maior, mas só o fato de
não ficar uma hora ou mais no trânsito lento, quase parando, já compensaria.
Peguei a DF-440, que sobe beirando o Condomínio Império dos Nobres e fui sair
na DF-001. Que beleza! Até o Paranoá, havia praticamente só eu na pista. Fiquei
pensando nos que enfrentavam a lentidão do trânsito da BR-020 e concluí que havia
feito a melhor escolha da minha vida. Quase sempre erro nesse tipo de escolha.
Quando mudo de fila num banco ou supermercado, por exemplo, sempre escolho a
fila que vai demorar mais. Parece coisa escrita nas estrelas. Ou praga, sei lá.
Dessa vez estava me dando bem, e era só felicidade.
Dizem que alegria de pobre dura pouco, e creio nisso. A minha
durou até pegar a EPPR, que vai contornando o Lago Paranoá, passa em frente ao
Varjão e entra no Lago Norte, ali nas proximidades do Shopping Iguatemi. Minha
gente, caí num engarrafamento que deixava o da Descida do Colorado na
lanterninha. Mas agora não havia outra saída senão (como disse aquela ministra
do Turismo) “relaxar e gozar”.
Pensar e dizer é fácil. No fundo, no fundo o que nos domina
mesmo é a raiva e o estresse. Fiquei pensando nos que precisam fazer esse
trajeto todos os dias e que, invariavelmente, enfrentam esse inferno. Só
consigo enxergar prejuízo, tanto para o cidadão quanto para o Estado. São
funcionários chegando atrasados ao local de trabalho e tendo mais gastos com a
manutenção do carro. São pessoas que, a longo prazo, ficarão doentes e lotarão
os hospitais públicos e os privados. É gente que chega irritada ao trabalho e
isso só gera um ambiente improdutivo e tenso. São indivíduos que, a qualquer
momento, podem perder as estribeiras e provocar cenas de violência absurda.
Enfim, a lista de prognósticos ruins é extensa. E qual é a solução para
melhorar esse trânsito caótico? Não sou especialista em trânsito, mas tenho lá
a minha sugestão: METRÔ. Só ônibus não resolve. Metrô moderno e eficiente. E
pronto!
Ah, quanto tempo gastei para chegar ao local do meu
compromisso, no Setor de Autarquias Sul? Uma hora e meia! Quase uma eternidade!
Como havia saído mais cedo, com tempo de sobra, cheguei na hora exata. Nem
mais, nem menos.
(*) Geraldo Lima é escritor, dramaturgo, roteirista e
colabora com o Jornal de Sobradinho.
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