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CINEMA: Pai sonhador sai de MG para ganhar o mundo em “O Outro Lado do Paraíso”



Nando (Davi Galdeano) narra as aventuras do pai (Moscovis) que sai de MG para a nova capital

GRAMADO – É como acertar na loteria. Não há uma fórmula para isso acontecer. A junção entre cenas ficcionais e imagens de arquivo num filme virou uma dessas missões quase impossíveis entre os cineastas brasileiros, que geralmente não conseguem um bom resultado nas telonas.

Neste quesito, o diretor André Ristum teve o seu dia de Ethan Hunt (o personagem de Tom Cruise no filme de espionagem, em cartaz nos cinemas) na noite de quarta-feira (12), quando exibiu “O Outro Lado do Paraíso” na mostra competitiva do 43º Festival de Cinema de Gramado.

Inspirada no livro infantojuvenil homônimo de Luiz Fernando Emediato, mineiro de Belo Vale, a produção conseguiu incluir, de maneira orgânica, imagens de uma Brasília recém-inaugurada, na década de 1960, à história verídica de um garoto que assistiu a um dos períodos mais conturbados do país, durante a ditadura.

Diferentemente de outros trabalhos, em que essa inserção costuma interromper o ritmo narrativo, saltando aos olhos do espectador, Ristum conseguiu casar o crescimento vertiginoso de uma cidade às transformações emocionais de seu protagonista, temeroso pelos rumos que o Brasil seguiria com os militares no poder.

“Assistimos a cenas de um documentário de Joaquim Pedro de Andrade, ‘Brasília, Construção de uma Cidade Nova’, feito em 1967, que não tinham sido usadas por ninguém ainda, e percebemos que a inclusão delas dava força ao filme”, registra Ristum. Há três anos, ele lançou “Meu País”, protagonizado por Rodrigo Santoro e Débora Falabella.

Quase uma biografia

O resultado agradou aos críticos que acompanham o festival gaúcho, mas o uso constante de narração em off não. Um jornalista chegou a brincar se, após um abaixo-assinado, os realizadores retirariam esse artifício, que apenas reitera, na maioria das vezes, o que as imagens estão mostrando.

O diretor surpreendeu com a sua resposta, dizendo que seria um dos seus principais signatários. “Compartilho da mesma visão e chegamos a fazer uma versão sem o off. Mas às vezes a gente precisa ter uma ótica mais aberta, pensando que ele pode ser de ajuda para o grande público”.

Emediato, que também é o produtor, assumiu a culpa, explicando que sua visão de cinema é de um espectador apaixonado. E justificou a sua decisão afirmando que era uma questão de gosto, citando “offs enormes” como o de “Como Era Verde Meu Vale” (1941), clássico assinado por John Ford.

Proprietário da Geração Editorial, ele revelou ainda que não queria fazer o filme, por ser uma história autobiográfica e muito íntima. “A melhor maneira de controlar tudo foi ser produtor, mas não consegui (controlar). A única coisa que consegui foi o off”, destacou, arrancando risadas da plateia durante o debate.

Um indício de que a escolha não poderia agradar públicos mais exigentes foi a avaliação feita pelo experiente roteirista Marçal Aquino. “Ele disse que, sem off, seria um belo filme. Com ele, não atrapalharia. Ou seja, sem off é cinema. Mas preferimos abrir um diálogo novo com a plateia”, argumentou o escritor.

Com Eduardo Moscovis, Jonas Bloch e Murilo Grossi no elenco, “O Outro Lado do Paraíso” também teve como uma de suas ferramentas o CGI (computer-generated imagery), que criou, no computador, novas construções para a cidade cenográfica montada em Sobradinho (DF), que tinha 15 mil metros quadrados de área construída.

“Um especialista em efeitos especiais nos acompanhou no set, para nos dizer como seria a melhor maneira de filmar cada cena, para que depois fosse aplicado o CGI. Quando vemos os operários numa obra, só os operários são reais. O prédio inteiro foi aplicado na pós-produção”, conta Ristum.


Confira um pouco deste impulso de aventura no trailer de “O Outro Lado do Paraíso” a seguir:



Fonte: Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia

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