RECENTES

COLUNA COMUNICAÇÃO SOCIAL


Joel Pires*

JORGE AMADO: Capitães da Areia

O longa já saiu do circuito das telonas. Agora está disponível em outras mídias. A versão literária eternizou-se. Quem ainda não viu pode escolher: livro ou filme. Duas linguagens e um mesmo objetivo, encantar pela arte, seduzir pelo olhar, capturar pelos sentidos... respirar na beira do mar. Os Capitães estão por aí, Brasil afora. Filhos de Jorge Amado. Senhores da Bahia, de todos os santos. A transposição para o cinema foi um sucesso. Os personagens saltaram das páginas mágicas do aclamado escritor para ganhar o mundo audiovisual.

Veja bem: não são capitães de areia. O uso do artigo, nesse caso, faz toda a diferença. Um simples artigo, a, em contração com a preposição, de, determina o significado, o sentido. Esses personagens não se desfazem com o vento. São personalidades, velhos marinheiros do mar da Bahia, senhores das ruas, da praia, do trapiche. Navegam sabendo que não podem contrariar as correntes. A nau, aparentemente à deriva, segue o rumo do vento. No leme, Pedro Bala conduz a embarcação: “Nóis é um grupo”, adverte o capitão.

A versão cinematográfica coroou a obra escrita. Não há conflito entre as mídias, sabendo-se seus elementos característicos. Os projetos se complementam, desde que se respeite o original. A polêmica em torno da adaptação de uma obra literária para o cinema existe. Contudo, não podemos ser radicais. Sabemos que são suportes diferentes, com suas sutilezas, e fidelidade é outra questão melindrosa. O perigo é cair nas paixões. Escritores e leitores ‘xiitas’ podem não gostar da mudança. Um dia a escrita já foi talhada na pedra; imagine o peso. O novo sempre vem.

Mesmo sabendo que o autor do clássico não foi imparcial na narrativa, pois toma os garotos do trapiche para si, a realidade comove. A velha dicotomia retorna: vida versus ficção. A causa também é do escritor, numa obra densa, verdadeira e poética. Os dramas universais, dos garotos de todas as idades, abandonados ou não, estão por aí e encontram eco, ressonantes à arte literária e cinematográfica. “É DA VIDA”, como diz a embarcação.

Por Joel Pires - Psicopedagogo, professor e colaborador do Jornal de Sobradinho

Nenhum comentário