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CHUVA

*Geraldo Lima

“Chuva é um fenômeno meteorológico que consiste na precipitação de água no estado líquido sobre a superfície da Terra”, nos informa a Wikipédia. Chuva é água desabando sobre planícies, serras, montanhas, vales, desertos, mares, oceanos... Chuva é água que se joga no vazio para se espatifar entre plantas, pedras, seixos, máquinas, muros, medos, solidões... Chuva é lágrima de nuvem que lamenta a brevidade do seu estado liquefeito. Chuva é chuveiro celeste banhando o imenso corpo da Terra nua. Chuva é precipitação de água para saciar a sede do planeta que gira em torno de uma bola de gás incandescente.

Chuva é alívio contra a seca intensa que nos castiga de agosto a setembro no Planalto Central. É uma ducha fria nos refrescando do calor de trinta e tantos graus que nos acossa no interior de uma fornalha durante o inverno. É a morte da baixa umidade do ar que nos expõe às viroses e a todas as “ites”. É o abrir das cortinas para que a primavera adentre o palco com seu espetáculo de flores e canto de pássaros. É o fim da insanidade das queimadas que devastam a flora e a fauna do cerrado. É a vida que se precipita do alto e toca o chão numa simbiose lírica e fecunda. É o afogar das mágoas e das tristezas num delírio líquido e regenerador. É o celebrar pagão do agricultor ante a promessa de uma colheita farta e generosa.

Mas chuva significa, também, apreensão e medo para quem vive sob a ameaça de uma cratera que avança decidida, engolindo árvores, ruas, muros, casas e esperanças. Para os que equilibram, imprudentemente, a casa na beira de morros e barrancos, o terror se inicia com o primeiro pingo de chuva que toca a pele. Depois da poeira, a lama para os que moram em ruas sem asfalto e rede de esgoto. A tragédia se anuncia sob o som dos trovões e o brilho dos relâmpagos. A dádiva dos céus será, nesse caso, motivo de desespero e pranto para os que são reféns da mão torrencial que inunda e desabriga e da inoperância dos órgãos governamentais.

(*) Geraldo Lima é autor dos livros A noite dos vagalumes (contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária, FCDF), Baque (conto, LGE Editora/FAC), Nuvem muda a todo instante (infantil, LGE Editora), UM (romance, LGE Editora/FAC) Trinta gatos e um cão envenenado (peça de teatro, Ponteio Edições) e Tesselário (minicontos, Selo 3x4, Editora Multifoco). É colunista dos sites O BULE www.o-bule.com e Portal Entretextos: www.portalentretextos.com.br Colabora com o Jornal Opção, o Jornal de Sobradinho e a Revista TriploV: www.triplov.com Bloga ainda em: www.baque-blogdogeraldolima.blogspot.com email:gera.lima@brturbo.com.br Twitter: @gerassanto.com

Um comentário

O Escrevinhador disse...

Belíssimo texto, muito bem concebido e executado, caro Geraldo. Concordo, plenamente, com suas colocações.