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DESCASO: Polo de Cinema de Sobradinho continua abandonado


Grande parte das salas do espaço foram transformadas em depósitos de entulho. A falta de manutenção compromete a estrutura e causa prejuízos

* Luiz Calcagno

Há quase duas décadas, a cena se repete. O Polo de Cinema Grande Otelo, em Sobradinho, principal estrutura do Distrito Federal para receber os trabalhos da sétima arte, segue abandonado. As últimas filmagens de grande repercussão que passaram por Brasília, entre elas o filme sobre a cena roqueira local, Rock Brasília — Era de Ouro, de Vladimir Carvalho, não usaram o espaço da Secretaria de Cultura. Produtores e cineastas locais procuram espaço para construir cenários em armazéns e galpões, porque o estúdio do polo está desabando.

No último dia 26, o Polo de Cinema Grande Otelo atingiu a maioridade. Completou 18 anos de funcionamento, mas passou os 12 primeiros sem receber qualquer reforma. Além de o local estar caindo aos pedaços, apresenta diversos outros sinais da passagem do tempo. Vazamentos, goteiras, portas destruídas e falhas na instalação elétrica são alguns dos problemas. Ao longo das quase duas décadas de funcionamento, o polo já recebeu mais de 5 mil estudantes de escolas públicas para sessões de cinema. Atualmente, o desenvolvimento desse tipo de atividade é inviável o que fere dois dos principais objetivos do projeto: aproximar a população da sétima arte e dar suporte a produções locais.

Há pouco mais de dois anos, uma ventania arrancou o telhado do estúdio. O forro do prédio acabou apodrecendo e começou a cair. As placas de madeira pesam quase 100 quilos e, quando se desprendem da estrutura metálica, caem de uma altura de mais de 10 metros. Os cenários do filme Vidas mortas e as horas vazias, de Pedro Lacerda, filmado entre maio e junho de 2010 em parte do prédio, foram destruídos pela chuva. O mesmo ocorreu em 2009 com os cenários do curta-metragem Senhora, de Adriana Vasconcelos. Em ambos os casos, o prejuízo chegou a R$ 20 mil em materiais que, caso fossem preservados, poderiam ser reutilizados em outros filmes.

Lacerda, que além de cineasta é diretor da Associação Brasileira de Documentaristas (ADB), explica que o polo deveria baratear os custos. “Quando filmei Vidas vazias e as horas mortas, usei a estrutura do polo, o que acabou encarecendo a produção. O galpão está caindo, se não for recuperado logo, vamos perder a estrutura. Desde 2004, existe um orçamento aprovado na Novacap, mas o GDF não reforma”, explica.

Na visão do cineasta, as mudanças têm que começar na via que dá acesso ao polo, no Km 4 da DF-330. O trecho não é asfaltado e está mal sinalizado. Um dos papéis do complexo é dar conhecimentos técnicos a novos diretores. Diante do atual estado de conservação do local, porém, o desafio se torna impossível. “As universidades formam cineastas na teoria, e o polo é importante para a formação técnica. O local também poderia oferecer cursos para adolescentes, instruir mão de obra e repassar conhecimento, o que é muito importante”, ressalta Lacerda.

Sem teto
O dono da produtora Thor Filmes, Rojer Madruga, tenta dar início ao filme Signo de ouro, de Pedro Anísio. A dificuldade, no momento, é encontrar um estúdio para montar o cenário e começar as filmagens. Sem poder rodar no Polo de Cinema Grande Otelo, a produção procura um galpão ou armazém para receber a equipe. “No momento, estamos em busca de um estúdio, mas não temos nenhum. Eu poderia usar a estrutura do polo, mas não dá nem para entrar no prédio. Precisamos iniciar o filme e ainda não sabemos onde. Vamos ter que utilizar galpões e armazéns. Isso é crítico”, reclama.

Para Rojer, com uma reforma emergencial no estúdio, com cerca de dois meses de duração, o Signo de ouro poderia ser rodado no local. Ele acredita que o descaso do Poder Público com o espaço também prejudica Sobradinho, uma vez que as produções podem aquecer o mercado local. “Poderíamos rodar na cidade, chamar a população de lá para trabalhar no filme. É bom para a economia. Os gastos beneficiariam a cidade. Mas o fato é que o polo está praticamente interditado. O que precisa ser feito? Existe orçamento, uma ordem de serviço e processo licitatório. O que falta é vontade política”, critica.

Prioridades

» Substituição do telhado do estúdio;
» Substituição do forro;
» Conserto do isolamento acústico;
» Substituição de toda a parte elétrica;
» Substituição das portas dos camarins;
» Pintura geral;
» Trabalhos de paisagismo.

Por Luiz Calcagno/CB - foto Bruno Peres/CB/D.A Press

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