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SÍNDROME

*Joel Pires

Viu-se cercado de problemas. A compulsão tornou sua vida agitada. Acumulou inúmeras tarefas. O expediente na empresa, as aulas particulares, a esposa, a amante, os filhos, as dívidas... tudo contribuía para tirar-lhe o sossego. Sua mente já não suportava tanta pressão. Até que, um dia, o inevitável. Sentiu-se mal quando voltava do trabalho. Um aperto no peito, e a parada brusca do carro. O fluxo da via foi interrompido. Era fim de tarde. Desesperadamente, deixou o veículo e correu pela rodovia acenando e pedindo socorro. Buzinas, faróis, xingamentos... e, enfim, a sirene da ambulância. Paramédicos, maca, equipamentos. O norte de Brasília paralisado. Esvaía-se o som, ficando para trás, distante, dissipando-se como as luzes em volta. A névoa cobriu-lhe a consciência. Já não ouvia nada; os olhos, fechados. Um clarão surgiu assustadoramente. O som de trombetas despertou-o da letargia. E o encontro derradeiro. Estilhaços espalhados no caminho revelavam uma história em pedaços, como fragmentos de vida. Foi a última crise de pânico.

Joel Pires - Professor e Escritor
Especial para o Jornal de Sobradinho

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