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COLUNA TEXTOS & TEXTOS: O Boi de seu Teodoro


Por Geraldo Lima - Especial para o Jornal de Sobradinho

Seu Teodoro Freire é o que se pode chamar de lenda viva, não do rock ou do futebol, como se poderia pensar, mas sim da cultura popular brasileira, mais especificamente do Bumba-meu-Boi em Sobradinho.

Ao completar 90 anos de idade, presenteou a cidade com a 47ª Festa da Morte do Boi de Seu Teodoro. Uma festança de encher os olhos. Doente e internado, mestre Teodoro não pôde estar presente. Pena, pois sua figura magra e elegante daria mais brilho ainda à festa. Substituiu-o, e muito bem, o filho Guarapiranga na realização do evento. Isso mostra que o mestre plantou fundo as suas raízes culturais, e o resultado está aí: a festa acontecendo mesmo com a sua ausência. Como canta Walter Franco: “Quem puxa aos seus/não degenera não”.

Quem lá esteve, mesmo com a ausência do homenageado, pôde assistir a uma extensa programação que contou, como não podia deixar de ser, com atrações vindas do Maranhão (terra natal de Seu Teodoro), como o Boi de Santa Fé, que eu assisti e posso afirmar que é de uma beleza irretocável. A coreografia da dança, a música contagiante (quem precisa de rock’n’roll quando se tem a batida forte dos panderões e dos maracás?) e o colorido intenso do figurino prendem a nossa atenção. É energia do início ao fim.

E o que é esse “Bumba-meu-Boi” que Seu Teodoro luta para manter vivo entre nós, seres urbanoides (como diria o menestrel baiano Elomar Figueira de Melo) tomados pela cultura de massa?

O Bumba-meu-Boi é uma manifestação cultural genuinamente brasileira. Nascida no Piauí, espalhou-se por todo o país, recebendo, no entanto, em cada estado ou região, nomes diferentes. No Maranhão, o nome é este mesmo: Bumba-meu-Boi. Já na Amazônia, recebe o nome de Boi-Bumbá, que está se tornando um espetáculo quase midiático com o Festival Folclórico de Parintins. E a variedade de nomes se multiplica: Boi-Calemba, em Pernambuco; Boi-de-Reis, no Ceará; Boi-de-Mourão, em Santa Catarina... Cada variante desse folguedo traz, também, novo ritmo, nova indumentária, novos personagens... Mas o enredo não muda: “o boi da pastorinha se perde e ela sai à sua procura pelos arredores e vai encontrando os vários personagens. No final o boi é sempre morto e ressuscitado”.

É isto que Seu Teodoro faz: mantém viva a tradição em meio à modernidade urbanística e arquitetônica da Capital do Brasil. Mantém, nos seus arredores, a força da cultura popular brasileira. E isso não é pouco. Só espíritos fortes e conscientes da grandeza da nossa riqueza cultural não se deixam abater pela onipresença da cultura de massa. O Boi morre e ressuscita, e essa é a sua força e a sua magia.
Salve, Mestre Teodoro!


Geraldo Lima é autor dos livros A noite dos vagalumes (contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária, FCDF), Baque (contos, LGE Editora/FAC), Nuvem muda a todo instante (infantil, LGE Editora) e UM (romance, LGE Editora/FAC). Bloga em: www.baque-blogdogeraldolima.blogspot.com e www.o-bule.blogspot.com. Foto Divulgação.

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