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COLUNA TEXTOS & TEXTOS: ANTES, DURANTE E DEPOIS


* Geraldo Lima

A CAMPANHA ELEITORAL E A ANGÚSTIA DA ESPERA.

Até o dia da votação, a via-crúcis para o eleitor é longa. O tormento dos jingles e a profusão de imagens tomam conta dos nossos ouvidos e dos nossos olhos. É tortura vinte e quatro horas por dia. Por onde nos desloquemos, lá estão eles: os cartazes e as faixas de propaganda. À nossa frente, no trânsito, colados nos vidros dos carros, adesivos de candidatos que gostaríamos de ver atrás das grades. Dentro de casa, não estamos protegidos: os jingles grudentos que ecoam dos carros de som penetram pelas frestas das portas e janelas e nos tiram o sossego. A musiquinha martela no ouvido e fica na memória como um castigo.
Não é através de ideias que nos tentam convencer. Frases ocas batem nos nossos ouvidos como se pudessem nos seduzir com o nada. E, às vezes, seduzem mesmo, o que é ainda mais desesperador.
Tudo o que desejamos é que chegue logo o dia da votação e nos liberte! Mas esse dia não chega. Demora. Demora...
Sou do tipo de eleitor que, às vésperas da votação, vê-se tomado pela angústia e pela ansiedade. Se a disputa começa a se acirrar num eventual empate técnico, então essa angústia e essa ansiedade se multiplicam. Nesse momento, o pretenso rigor científico do IBOPE, do Datafolha e de outros institutos de pesquisa me irrita. Como assim, o adversário está crescendo nas pesquisas?! Pode até ser que me torno paranoico (meus filhos me acusam de ver complô em tudo), mas enxergo, nesse caso, o fedor da tramoia, da trapaça em escala nacional.
Óbvio que há os eleitores que nem tomam conhecimento desses fatos. São alienados e estão muito bem assim. Mas em quem vota esse tipo de eleitor? Enigma! E é isso que me preocupa. Seriam esses os eleitores dos Tiriricas da vida?

SOBRE A ARTE DE SUJAR A CIDADE (TEMA SUGERIDO PELO PROFESSOR OMILTO)

Na noite anterior à votação, tudo pode acontecer. Na calada da noite, em plena madrugada, enquanto dormimos, ei-los despertos, candidatos e cabos eleitorais, soltos pelas ruas, como uma horda de bárbaros, espalhando filipetas aos jorros.
Próximo às zonas de votação é que a sujeira se avoluma. Há candidato para todos os gostos. E desgostos. As calçadas ficam forradas dessas imagens inúteis. Por enquanto estão sujando apenas as ruas; eleitos, poderão emporcalhar muito mais. E isso é que nos assusta.
Sou do tipo de eleitor que já dorme imaginando que tudo isso vai acontecer. Tenho pesadelos. E não foi diferente desta vez. Acordei cedo e, pela janela, vi que o pesadelo havia se tornado realidade: milhares de santinhos haviam tomado as calçadas de assalto durante a madrugada.
No caminho para a padaria, na Quadra 15, pude perceber que a atitude de alguns eleitores acaba corroborando esse tipo de ação: vi mais de uma pessoa procurando na profusão de papéis o seu candidato ou um candidato qualquer em quem votar. Isso me preocupou. Então há gente que, mesmo após dias e dias de propaganda na televisão e nas ruas, mesmo com as orientações do TRE para que se leve uma cola, ainda deixa para escolher o candidato assim, de última hora, em meio à multidão de santinhos? Embora tenhamos criado a urna eletrônica, ainda estamos longe do processo eleitoral perfeito.
Para mim, bastaria a propaganda na televisão, o que evitaria toda essa sujeira, mas vejo que estamos longe disso. Nas próximas eleições, caso não mudem a lei eleitoral, ainda veremos toda essa imundície invadindo as cidades.

O PESADELO DO SEGUNDO TURNO.

Torci, deveras, para que tudo se acabasse no domingo à noite. Não deu. Ainda enfrentaremos o segundo turno para Governador e para Presidente.
Haja coração!
Para piorar, a internet tornou-se um meio de se espalhar boatos e afundar o adversário. O que se percebe, nessa lama toda, é que boa parte do eleitorado embarca nessa canoa sem procurar saber se o que se espalha pela rede é verdadeiro ou não. Esse tipo de atitude nos remete à Idade Média, e paira no ar um clima de superstição e medo. E isso me apavora. Um pouco de lucidez pode nos tornar imunes a esse tipo de propaganda escusa. Para o bem da Democracia, é bom que aprendamos a analisar os fatos com sensatez, procurando sempre a sua origem.
Se quisermos de fato um país melhor, precisamos aperfeiçoar nossa capacidade de avaliar e de escolher nossos representantes. A boataria e a desinformação não podem ser nossos guias na hora de votar.

(*) Geraldo Lima é autor dos livros A noite dos vagalumes (contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária, FCDF), Baque (conto, LGE Editora/FAC), Nuvem muda a todo instante (infantil, LGE Editora) e UM (romance, LGE Editora/FAC). Bloga em: www.baque-blogdogeraldolima.blogspot.com e www.o-bule.blogspot.com

Um comentário

Parreira disse...

O chato é quanto o sujeito chega na minha situação, a de não confiar mais nem em A nem em B.