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Literatura - O amor da rússia por Jorge Amado


Pesquisadora mostra como a obra do escritor baiano marcou a literatura estrangeira no país e deu mais humanidade aos russos

(*)Coluna Interseção Textual - Por Joel Pires / Texto: João Campos - Da Secretaria de Comunicação da UnB - Foto: Marcelo Brandt/UnB Agência
Elena defende que a simplicidade de Amado é o trunfo do sucesso


Os meninos de rua da Rússia não são chamados de “moleques” ou qualquer outra expressão no idioma que nomeie os excluídos infantis. Mas, sim, de “capitães da areia”. A expressão, referência à obra do escritor Jorge Amado (1912–2001) sobre garotos abandonados de Salvador, na década de 1930, não é em vão. O autor baiano, comunista declarado, é um marco da literatura estrangeira na ex União Soviética (URSS) e responsável por dar mais “leveza e humanidade ao povo russo”. Amado foi tema de palestra nesta quarta-feira, 10 de fevereiro, na Universidade de Brasília.

A tradutora e especialista nas relações literárias russo-brasileiras, Elena Beliakova, destaca que a percepção da literatura brasileira pelos russos se divide em três períodos: pré-Amado (1826–1947), durante Jorge Amado (1948–1991) e pós-Amado (1992 até hoje). “A obra de Jorge Amado foi a locomotiva da literatura estrangeira na Rússia. Seus romances, sempre muito populares, e a sua opinião foram, e ainda são, uma referência para os leitores”, comentou ela, durante o evento organizado pela Faculdade de Educação (FE).
O segundo período, marcado pelas atividades literárias e políticas de Jorge Amado durante o regime soviético, foi também a mais rica em produções. Em 33 anos, os leitores russos conheceram a obra de 132 escritores brasileiros. “O interesse por livros brasileiros poderia ser explicado pelo interesse geral pela América Latina durante o período. Mas a quantidade de obras do Brasil sempre chegavam em número duas vezes maior que a de outros países. O responsável por isso foi Jorge Amado”, afirma a professora da Universidade de Tcherepovets.
Até 1991 – ano que marca a derrocada da URSS – Jorge Amado era disparado o autor estrangeiro mais lido na Rússia (hoje só fica atrás de Paulo Coelho). “Mais do que uma referência pelo alinhamento ideológico, Amado chegava ao povo com seus personagens vivos e repletos de sentimentos que não eram encontrados na literatura Russa. A queda do regime socialista, no entanto, também representou uma grave perda cultural”, observa Elena, ressaltando que no período Jorge Amado as tiragens de livros atingiam 1 milhão de exemplares e, hoje, não passam de 50 mil.
PIQUENIQUE – O autor de Dona Flor e seus Dois Maridos, Tieta do Agreste e Seara Vermelha também deu aos russos uma aula de humanidade. “Seus livros tratam de uma celebração à vida, da alegria de viver, de amores irreverentes que, mesmo dando errado, podem ser bons. Esses são sentimentos que não encontramos na literatura russa”, destaca Elena. Para a especialista, a simplicidade de Amado – não encontrada no rebuscamento de contemporâneos, como Graciliano Ramos e Machado de Assis – é o trunfo do sucesso. “Quando leio Jorge, minha alma canta”, afirma Beliakova.
A humanidade transbordante do autor baiano contagiava as pessoas que o cercavam. Segunda mulher e viúva de Luís Carlos Prestes – um dos principais líderes comunista brasileiros –, a baiana Maria Prestes, que também veio prestigiar o evento na UnB, lembra dos piqueniques que ela, aos 10 anos, freqüentava na casa do escritor. “Ia acompanhar meu pai, que também era do partido. Quem teve contato com Jorge não se espanta com tamanha influência fora do Brasil. Ele era de uma solidariedade sem tamanho. Seus livros mudaram minha vida”, comentou a mulher, que aprendeu a ler após o casamento com Prestes.

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Profª Celina Cassal Josetti
Governo do Distrito Federal
Secretaria de Estado de Educação
EAPE/Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação
Fone: (61) 3901-2381
www.nossalinguaplural.blogspot.com

Um comentário

Milu disse...

REalmente, os russos gostam de J.Amado e o chamam simplesmente de Amado. Outro brasileiro muito vendido por lá é o Paulo Coelho. Espantosamente, conhecem Monteiro Lobato, o que me dá inveja, já que muitas crianças brasileiras o desconhecem ou o conhecem apenas pelo programa Sítio do Picapau da Globo.