ARTIGO por Henrique Matthiesen
Cemitério de soberba.
A existência
humana é constituÃda em suas gêneses de virtudes e enfermidades. Não há, dentre
a espécie terna, os desprovidos destes dois paradigmas que os caracterizam.
Dentre as
iniqüidades mais deletérias que carregamos em nosso arcabouço de enfermidades
está o pecado da soberba, correlatado com a nutrição de nosso orgulho no mais
infame complexo de superioridade, que normalmente esconde nossas mais densas
angústias. Sinônimos da soberba encontramos a arrogância, a vaidade, o orgulho.
Esses
adjetivos contraproducentes de ativismo prepotente são a face mais perversa da
vaidade. A busca irrefletida de um merecimento indevido é umas das chagas mais
maléficas destas personalidades adoentadas.
O exagerado
cuidado das aparências como objeto de colher sentimentos infecundos de
arrebatamento, galanteios, ou mesmo de inveja, expressa a ostentação tola da
exibição de seu modo de vida, de suas habilidades sociais, fÃsicas,
intelectuais ou mesmo de suas futilidades.
Outro
aspecto correspondente à soberba é a dificuldade quase insolúvel de uma
admissão de erro, afinal, dentre os peculiares sintomas dos acometidos desta
formação é a não admissão de fraquezas que expressam a sÃndrome venenosa da
covardia. Todo soberbo tem um alto grau de pusilanimidade.
Dentre a
reflexão sobre a soberba, muito nos tem a ensinar a mitologia. Somos os heróis
e bandidos, os malditos e os benditos, os virtuosos e a intemperança de nossos
próprios destinos. Os códigos a serem decifrados, do entendimento do mundo,
estão nas relações humanas repletas de preconceitos, incompreensões, ódios e
enfermidades.
As históricas lendas e contos, a jornada do mundo oculto, as batalhas dos deuses, trazem ensinamentos da mais apurada filosofia reveladora da mente humana, e suas sinuosidades multifacetadas.
Narciso, por
exemplo, em sua paixão de si mesmo é o retrato da transitoriedade do
estonteante, do sublime, do estupendo, do belo e da soberba.
Prisioneiro
de seu amor próprio traz o veneno da inaptidão de ver o efeito que provoca nos
outros.
Ele é
intocável, pensa somente em si. Expressão da vaidade humana do eu, o mito
Narciso morre embriagado pela sua soberba transvertida de beleza. Derivado do
vernáculo grego “narke” tem em sua significação o entorpecido, (origem da palavra
narcótica), que encontra Narciso morto entorpecido de overdose de si.
O
livre-arbÃtrio está posto em nossas existências. Dá-nos a oportunidade de
potencializar nossas virtudes ou nossas enfermidades.
Ser soberbo
é uma escolha, uma opção, um modo de vida.
Entretanto,
diferente da mitologia, do mundo filosófico, o homem é um ser finito que traz a
inexorável constatação de que um dia, independente da classe social, do estudo,
do dinheiro, iremos morrer.
E aÃ,
estaremos definitivamente num cemitério de soberbos.
Fonte: Henrique
Matthiesen (foto) /Bacharel em Direito
Nenhum comentário
Postar um comentário