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COLUNA TEXTOS & TEXTOS: A GENIAL LOUCURA DE GLAUBER ROCHA

* Geraldo Lima


Em 1980, ano em que foi lançado o filme ‘A Idade da Terra’, de Glauber Rocha, minha mente estava tomada por ideias revolucionárias. Ia atrás de qualquer estética que fugisse ao convencional. Assim, acompanhava pelos jornais a trajetória do novo filme do cineasta baiano e me deixava embriagar pela polêmica que a obra estava provocando. Diziam que poucos espectadores permaneciam até o final de cada sessão. Assisti ao filme no Cine Brasília. Era verdade o que os jornais diziam: várias pessoas não resistiram nem a trinta minutos de exibição e abandonaram a sala de cinema. Eu resisti. Mais que isso: saí de lá tomado pela estética delirante e dionisíaca desse que seria o último filme de Glauber Rocha. Uma cena, em especial, ocuparia (e ainda ocupa) a minha mente de forma quase obsessiva. Trata-se da cena em que o personagem de Tarcísio Meira, à beira-mar, repete, à exaustão, a seguinte fala (que sofre, na sequência, algumas variações):”Nós estamos condenados. Houve uma implosão no centro da Terra. Os nossos alicerces foram destruídos. A qualquer momento poderemos ser tragados pelo abismo”. Ele dizia isso e depois beijava a personagem da Ana Maria Magalhães. Mas a fala que mais repercutiu em minha mente foi esta: “Esta é a cloaca do universo!”. Ele dizia isso apontando para o lixo que as ondas arremessavam contra as pedras. A câmera girava e girava loucamente. E eu saí do cinema com a cabeça a mil, entrei no ônibus e ali mesmo escrevi um texto que tinha a pretensão de explicar toda aquela loucura genial do diretor de ‘Deus e o diabo na terra do sol’.


Geraldo Lima é professor, escritor, dramaturgo, roteirista e colabora com o Jornal de Sobradinho.


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