RECENTES

SAIU O LAUDO: Falha mecânica foi motivo de colisão entre ônibus e carros em Sobradinho

De acordo com a perícia, o ônibus estava a 57km/h no momento em que atingiu um corsa e uma motocicleta

*Adriana Bernardes

A batida de um ônibus em dois veículos, que resultou na morte de quatro pessoas, em agosto, foi provocada por defeito no coletivo, conforme laudo do Instituto de Criminalística da Polícia Civil. A tragédia ocorreu em Sobradinho

Laudo pericial do Instituto de Criminalística da Polícia Civil concluiu que uma falha mecânica foi a causa determinante do acidente, em 19 de agosto último, em Sobradinho. A colisão envolveu um ônibus do Grupo Amaral e dois veículos e resultou na morte de quatro pessoas. O motorista do coletivo invadiu a pista contrária e bateu em um motociclista, e em um carro de passeio e atropelou um pedestre. Três pessoas morreram na hora e uma das vítimas permaneceu internada até 13 de setembro, quando foi a óbito.

De acordo com o documento obtido com exclusividade pelo Correio, o motorista do coletivo dirigia a 57km/h. A análise dos peritos revelou que, durante o processo de frenagem, “o veículo apresentou desvio à esquerda, por motivos de falha mecânica”, entrou nas faixas de direção de sentido oposto e colidiu com os demais veículos até parar no muro da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb).

O mototaxista Erudá Barreira de Souza Filho, 21 anos, a professora Cristiane Mulim Venceslau, 34, e o pedreiro Alan Jones Oliveira, 30, morreram no local. O marido de Cristiane, o professor de geografia Marlon Pereira Silva, 38, ainda resistiu aos ferimentos até 13 de setembro, quando também morreu. O casal deixou duas filhas, uma de pouco mais de um ano e outra de 3.

O resultado do laudo vem ao encontro da versão do motorista, Wilson Costa. Desde o primeiro momento, ele alegou falha mecânica do veículo. Em depoimento na 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), ele relatou ter ouvido um barulho e, em seguida, perdedido o controle da direção. Na época do acidente, mais duas pessoas confirmaram à polícia a mesma história: um barulho seguido do descontrole do veículo.

Alívio
Na tarde de quarta-feira, Wilson Costa foi à Polícia Civil e pagou R$ 74 para ter uma cópia do laudo. “Eu precisava ter esse documento. Quando li no papel que a responsabilidade não era minha, senti um alívio. Mas, ao mesmo tempo, uma tristeza grande, porque lembrei das famílias que perderam seus entes queridos”, desabafou. Depois do acidente, ele diz ter pedido demissão da empresa. “Não consigo dirigir. Talvez um dia eu volte. Mas agora não tenho condições.”

No fim do dia de ontem, o motorista esteve na casa do mototaxista morto no acidente. “Só agora, me sinto à vontade para levar o meu abraço aos parentes da vítimas”, comentou. Ficar frente a frente com a mãe do rapaz foi difícil. “Olhar nos olhos delas e ouvir ela dizer que ele era o bebê dela, que era o único filho homem… foi muito triste. Ela ficou muito emocionada. É uma mulher humilde e mora em uma casa muito simples. Ver aquilo tudo me trouxe todas as lembranças daquele dia”, relatou, emocionado, Wilson Costa. O próximo passo é procurar a família das outras vítimas.

O ônibus envolvido no acidente continua parado e, segundo o gerente de Operações do Grupo Amaral, Wilson Tavares da Silva, um mecânico da empresa fabricante do veículo será chamado para avaliar a peça avariada. “O laudo diz que houve o rompimento da bolsa (que serve para amortecer os solavancos das irregularidades do asfalto). Geralmente, quando isso ocorre, há o vazamento do ar e o carro fica torto. Um lado fica mais baixo que o outro”, explicou Silva. “Esse é um caso isolado.

Nunca aconteceu antes de rompimento da bolsa desviar o veículo para um dos lados”, disse. Perguntado se a empresa pretende pedir um novo laudo, Silva não confirmou nem descartou.

Frota velha

O veículo que provocou acidente tinha 11 anos de fabricação e estava com a vistoria vencida desde 19 de julho. Chegou a ser retirado de circulação em 29 de julho. Voltou a ser vistoriado em 2 de agosto e acabou reprovado por constatação de falhas que comprometiam a segurança dos passageiros. A última inspeção do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) ocorreu no dia do acidente e o veículo foi liberado.

O diretor Operacional do DFTrans, aguarda o recebimento do laudo para decidir se abre procedimento para apurar se houve falha na vistoria. “O laudo fala do rompimento das bolsas. Isso não seria algo fácil de detectar. Elas fazem o trabalho de amortecimento, abertura e fechamento de portas. No nosso laudo, consta que houve a verificação da bolsa e estavam em perfeito estado”, adiantou.

Por Adriana Bernardes/Correio Braziliense,foto de Ferreira Santos(JS)

Um comentário

Anônimo disse...

Texto esclarecedor e comovente!