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Ao Poeta

O MITO

‘Porque preciso do corpo
para mendigar Fulana’

Joel Pires*

Drummond acessou a memória das coisas que existem. Num outro plano. No das ideias. Daquilo que nasce lá de fora. Invade a luz. Mas as sombras insistem em ficar paradas. Perdidas. Como se o sol não fosse acessível. Como se nem houvesse sol. Nem calor. Porque gostam do gelo. Da falta. Porque esquecem que já estiveram lá. No silêncio, quando o verbo não existia. E tudo era morno. Num tempo em que o fogo da existência era a própria ausência. Mas Ela estava lá.

Aliás, escreveu o poeta:

‘Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.’

Carlos Drummond de Andrade
Parabéns, Drummond, pelo Dia que se aproxima!

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