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AMOR E ARTE NA SERRA

*Conceição Freitas

Cidade das artes, das cachoeiras, das serras, cidade de onde se aprecia o esplendor solene da Chapada de Contagem, Sobradinho continua sendo uma joia ao norte do quadradinho. Pensada para ser uma cidade dedicada à agricultura, foi planejada por um arquiteto da equipe de Lucio Costa, Paulo Hungria Machado. É um projeto de vias largas, de lotes espaçosos — entre 350 e 525 m² — que desembocam em grandes áreas verdes, a exemplo das 700 Sul. Com 130 mil habitantes, abriga uma classe média fortalecida pelos muitos condomínios ao redor.

Gente que gasta, em média, R$ 30 mil num casamento, como relata o fotógrafo Eduardo Nobre. “Mas já vi cerimônia que custou R$ 70 mil, tinha até manobrista.” Na quinta-feira passada, Nobre registrou o casamento do empresário Felipe Pacheco, 24 anos, com a professora da rede pública Cristina Cavalcante, 23, na Mansão das Orquídeas. O casal se conheceu há dois anos na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Depois da cerimônia, os dois foram passar uma semana em Caldas Novas.

Desde muito, Sobradinho agrega artistas plásticos, escritores, músicos. A cidade abrigou, por algum tempo, o contista, ensaísta e engenheiro Samuel Rawet, um dos que calcularam obras de Oscar Niemeyer em Brasília. É na Quadra 6 que vive um dos nomes mais importantes da cultura popular do DF, Teodoro Freire. Aos 90 anos, ainda se recupera de doenças respiratórias.

Respira com a ajuda de balão de oxigênio, mas não perdeu a elegância com seu inseparável chapéu panamá, rodeado pela bandeira do Flamengo e pelas muitas homenagens recebidas por sua fidelidade ao Bumba meu Boi. Há meio século, Maria José, 78 anos, acompanha o marido com a mesma lealdade e valentia.

“Eu estou bem, né? Se a Maria José está bem e se o Flamengo está bem, então eu estou bem.” Não muito longe de Teodoro, na Quadra 4, vive Madame Kalil, artista plástica que esteve no olho do furacão cultural que envolveu Sobradinho nas décadas de 1970 e 1980. Enfrentando o mal de Alzheimer, Madame alterna estados de lucidez (e que lucidez!) com períodos de ausência. “O meu tempo acabou”, ela comenta, depois de ouvir duas das filhas relembrando a época em que a casa vivia cheia de artistas e Madame enchia o jardim com instalações num tempo em que nem se conhecia esse gênero de obra de arte.

Herdeiros do fervor de antes, jovens artistas criaram recentemente coletivos culturais como o Buraco da Fechadura e o Guindaste, para ligar a ponta do passado à ponta do presente e criar um futuro. Do mesmo modo que, apesar de não ter sido a cidade rural que se pretendeu no início, Sobradinho mantém sua vocação para o ecoturismo e o hipismo. Existem na região 25 haras e uma Rota do Cavalo, onde se pratica a cavalgada. Se tem cavalo, tem cavaleiro e cavaleira.

E, pelo menos, uma campeã. Luciana Lima, 25 anos, ganhou recentemente o Campeonato Brasileiro de Três Tambores da Associação de Quarto de Milha de Brasília, na categoria feminina e amadora. A mãe de Luciana, Maria Lúcia, levou o troféu Master; e o namorado, Salomão, venceu na categoria aberta. Teodoro, casamentos chiques, hipismo, arte contemporânea, rock, samba… Sobradinho é diversa, rica e bela.

Por Conceição Freitas

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