RECENTES

Subindo Correntezas


*Joel Pires

Por força das circunstâncias sou obrigado a escrever este texto. Não tenho escolha. É preciso registrar o ocorrido nessa quinta-feira por volta de 13h. Estou fazendo um trabalho fotográfico com o objetivo de captar ângulos que remetam ao tema “Entre asas e prisões”. Pois bem, aproveitei o dia e me dispus a seguir na empreitada. Passei pela cidade procurando recortes específicos para o ensaio fotográfico. Algumas fotos também renderiam uma matéria sobre “Espiritualidade como libertação no contexto do aprisionamento moderno”.

Após algumas tomadas em diferentes locais e sob várias perspectivas, entre elas a casa de um João-de-barro recentemente construída num poste de iluminação pública, parei em frente a uma igreja na quadra 6 de Sobradinho. Liguei o pisca-alerta e encostei o carro onde já havia outros parados, pois a sessão duraria poucos segundos, o suficiente para fazer um rápido registro da torre da igreja e seguir o roteiro programado. Mas o que a gente não encontra na vida para atrapalhar nossos projetos! Um carro imponente, preto, desses que custam o dobro no Brasil, em comparação com países como México, Chile e Estados Unidos – isso é assunto para outro texto –, passou disparando ofensas. Seu dono, um policial militar truculento, despreparado, não gostou de ter em seu caminho um jornalista fotografando a Casa de Deus.

O Templo resplandecia o esplendor do belo dia de sol. Mas o altivo militar, do alto de sua prepotência – à paisana –, desceu do ofuscante veículo de arma em punho. Pasmem! Ora, policial militar à paisana não deve andar com arma empunhada, sobretudo contra um cidadão cuja arma é uma máquina fotográfica, mas de alcance inimaginável. O mundo tem acesso aos meios de comunicação instantaneamente. Para me resguardar, fotografei o referido agente, pois dizia impropérios ao descer do carro com a arma na mão, reitero. Que risco a sociedade não corre! Enquanto isso, bandidos se drogam, assaltam e matam na nossa cara (viram a reportagem do jovem de 18 anos morto em Taguatinga e, logo após, incendiado?!).

Quando se viu fotografado, o policial também fotografou minha placa, fez ligações e disse para eu esperar uma “visita em casa”. Que venha! E traga reforços! Afinal uma máquina fotográfica pode ser letal. Adianto que não tenho porte de máquina fotográfica, e que o equipamento pertence à UnB. À paisana, seu policial! Contra um fotógrafo! Uma afronta à Imprensa, aos Direitos Humanos e uma ameaça ao direito de informação e ao livre exercício do trabalho jornalístico.

Nesse sentido, Lya Luft, em seu livro “Pensar é transgredir” traz uma valiosa reflexão para todos que encontram dificuldades no caminho: “Viver é subir uma escada rolante pelo lado que desce”. Uma metáfora acertada para a vida, e um símbolo de resistência! Até as crianças praticam isso. E mais adiante acrescenta: “Mesmo que pareça quase uma condenação... é o que nos permite sentir que afinal não somos assim tão insignificantes e tão incapazes”.

Por Joel Pires, Professor, Psicopedagogo e Colaborador do Jornal de Sobradinho - Foto Google Images

Um comentário

Franklin disse...

É impressionante e revoltante quando vemos indivíduos que se dizem servidores públicos que ganham seus salários retirados dos nossos impostos pagos, que deveriam estar zelando pela nossa paz e segurança fazendo exatamente o contrário, o seja, nos oprimindo e humilhando. Via de regra vemos agentes das polícias civil e militar abusando do poder a eles outorgado para se beneficiar de alguma forma ou oprimir cidadãos de bem. E quando somos lesados, prejudicados de diversas formas e recorremos a eles, pouco ou nada fazem para nos ajudar. Vergonhoso. Parabéns ao jornalista Joel Pires pela coragem e propriedade com que expôs sua opinião.