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CRÔNICA: LUIZINHO

* Vanilson Reis

Ele passa todos os dias em frente ao Edifício Quéops, sempre empurrando um carrinho de picolé. O homem usa um chapéu, mesmo que vê, à moda mexicana. Deve que é porque o sol o aporrinha muito. Seu nome de guerra eu já escolhi faz tempo: Luizinho picolezeiro, porque Luizinho se parece com outra pessoa que mora em Formosa. Os dois são cuspidos e escarrados na forma popular da palavra. Eu vejo Luizinho por todos os cantos em que eu ando por Sobradinho: na Quadra 14, na Quadra 08, na Central e até em Sobradinho II. É incrível a sua dedicação como picolezeiro! Ele tem os passos largos; iguaizinhos a um verdadeiro soldado de infantaria. Talvez Luizinho possua a ligeireza da ema e do canguru. Mas Luizinho é um êmulo dos amigos de profissão, com o aspecto da águia e do falcão que nunca se perdem da trajetória de uma presa. O homem escala os becos e as ruelas que existem aqui, não fica nenhuma vivalma para trás. Entra aqui, ali, acolá. E ele vai desbravando o sertão da urbanidade para oferecer o seu picolé.

É muito engraçado, quando eu olho pela janela do apartamento da 14 e vejo Luizinho passar guiando o carrinho de picolé. Ele às vezes se encontra tão envergado no sentido horizontal, que a sua figura pequenina se confunde com o desenho Animado do Pica-pau. Eu tenho um certo medo de que a rapidez e o jeito de Luizinho empurrar o carrinho de picolé venham, posteriormente, causar-lhe um desvio da coluna ou mesmo um grave acidente de trabalho. Pois Luizinho anda tão rápido que ele deve botinar Sobradinho em fração de minutos. E o homem usa calça social e camisa manga comprida. Só que Luizinho tem uma botina tão resistente quanto o calçado do recruta no Exército (o coturno que é duro como o ferro...). Com certeza, Luizinho comprou essa botina com o dinheiro dos picolés que vende na rua. O homem trabalha no duro! Dia domingo, dia Santo e feriado. Faça sol ou faça chuva, podem vir pra cá e esperá-lo de frente ao Quéops ou à Igreja Imaculada. O homem não custa a aparecer na esquina do Bar Amarelinho, munido de chapéu mexicano e com aquela pressa de quem precisa faturar mais um pouquinho. Ele é baixo, emborcado que nem gado zebu quando corre no pasto. Possui uma pele escamada e uns lábios deteriorados pela enfermidade que o sol tem lhe causado. Cá entre nós, amigo leitor, não é por causa do próprio sol escaldante de Sobradinho que a pele e os lábios de Luizinho são assim?

*Vanilson Reis é professor e escritor/ Especial para o Blog e Jornal de Sobradinho.

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