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NAVALHA


*Joel Pires

Recentemente revi o filme “Forrest Gump”, e o corte na carne é sempre o mesmo. O constrangimento do excesso diante da simplicidade. A fragilidade e a ingenuidade da criança que ignora a selvageria à sua volta. E ainda assim ela sobrevive milagrosamente, sob a graça de Deus. Os esforços para protegê-la não seriam suficientes, não fosse a providência divina. O perigo aparece de todos os lados e assume várias faces. Essa criança também somos nós.

Confiamos cegamente, quando a maldade nos rodeia sorrateira. Imbuídos do sonho e da esperança, teimamos em acreditar no melhor, embora a decepção seja cotidiana. Uma senhora, outro dia, numa farmácia famosa foi ludibriada, enganada. Ela tinha um “cartão de fidelidade” e confiou no vendedor achando que teria o menor preço. Eu conversei com aquela simpática idosa, D. Maria. Ela era aposentada, temente a Deus, e muito agradável. Sua fé me comoveu. Ela disse, com desprendimento e sabedoria, que sua esperança não estava neste mundo, do qual era passageira. E continuou dizendo: “meu filho, eu tenho problemas, mas um dia toda lágrima secará”. Não perguntei o que aquela senhora tinha. Seu vestidinho comprido e recatado lembrou minha avó, já falecida. Ela também confiava no senhor, e morreu tranquila.

Na drogaria, fui comprar um medicamento de uso contínuo, como aquela simpática consumidora. A propaganda do tal cartão é de que, em caso de medicamentos para depressão, diabetes, hipertensão etc., o desconto é garantido. Constatei que, mesmo sem ele, o preço era igual. Aquela idosa, que recebe aposentadoria, certamente abriu mão de algo também necessário como o remédio. E foi enganada. Nossa justiça é falha, mas a convicção daquela cristã fervorosa revelou tamanha força, serenidade e fé que me fez acreditar numa outra Sentença, a Divina.

Uma grande rede de drogarias faliu recentemente por usar estratégias espúrias. O Código de Defesa do Consumidor foi violado descaradamente. Todavia, a indignação move montanhas. Uma enxurrada de processos culminou no fechamento da drogaria que levava o nome de “santa”. A justiça, divina e humana, foi feita. Eu fui um dos beneficiários da decisão judicial.

*Por Joel Pires professor, psicopedagogo e colaborador do blog & Jornal de Sobradinho

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