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COLUNA TEXTOS & TEXTOS - Por Geraldo LIma


AVATAR: UMA OVERDOSE DE IMAGENS


Assisti, enfim, ao megassucesso Avatar, do diretor canadense James Cameron, residente nos Estados Unidos. Ele é o diretor de outros grandes sucessos como Titanic, Exterminador do Futuro 2 e Aliens: O Resgate. O homem, formado em Física, entende mesmo dessa coisa de fazer filmes com grandes orçamentos e com muitos efeitos especiais. Aliás, consta que ele foi o primeiro diretor a produzir e a dirigir um filme com custo acima de 100 milhões de dólares. É, sem dúvida, um dos principais ícones da indústria cinematográfica norte-americana. É um Midas dos tempos modernos.

E o que este último filme de Cameron tem de espetacular? Confesso-lhes que, além do recurso do 3D, não vi muita coisa que tivesse compensado o esforço de me deslocar de casa, de pagar doze reais (meia entrada) e ter cutucado minha sinusite com vara curta por causa do ar-condicionado da sala de cinema.
Como assim?, perguntar-me-ão os fãs do filme Avatar.

Se observarmos atentamente, perceberemos que em termos de roteiro não há nada de novo nesse filme. De que consiste a sua trama? Uma companhia mineradora está colonizando a lua Pandora com o intuito de explorar um valioso minério que se localiza exatamente na região onde vive o povo Na’vi. Nesse imbrolho todo há os cientistas que desenvolvem o projeto Avatar e estudam os costumes dos habitantes de Pandora. Tudo para facilitar a aproximação com os nativos e, obviamente, a exploração do tal minério.

Como é de se esperar, idealismo e ambição vão se chocar no final, e essa é a pitada ética e ecológica do filme.

Os cientistas são idealistas, acreditam numa aproximação pacífica e numa negociação para a retirada dos nativos que moram numa grande árvore. Para se opor a esse projeto pacifista, há o comandante dos mercenários, um tipo obcecado pela guerra, pelo uso da força para resolver os problemas. O administrador da estação em Pandora é também ambicioso e só enxerga o lucro diante dos olhos. Tudo clichê! Já vimos essa receita em outros filmes de Hollywood. Para fechar a mesmice, há o romance aparentemente impossível entre um avatar e uma nativa de Pandora. O tema do amor impossível, uma repetição de Romeu e Julieta, de Shakespeare.

Olha, em alguns momentos pensei estar assistindo a um daqueles faroestes em que os índios Cheyennes ou os Apaches enfrentam a cavalaria do General Custer. (Há um James Cameron que trabalha como ator no filme O Último dos Moicanos. Estou supondo que seja o diretor James Cameron. Aliás, parece-me que a família Cameron toda trabalha lá.

Há mais dois atores com esse sobrenome: John Cameron e Alexandra Cameron. E já disseram por aí que Avatar seria O Último dos Moicanos tecnológico). Noutro momento, quando o Avatar de Jake, protagonista do filme, pede ajuda a Eywa, e ela o atende, convocando todos os animais para atacar o exército de mercenários, lembrei-me dos velhos filmes de Tarzan, quando ele, soltando aquele grito poderoso, convocava a bicharada da floresta para ajudá-lo a expulsar os invasores. Nesses momentos, senti vontade de me levantar e ir embora. Mas a novidade do 3D me fez ficar.

Aquela sensação de estar quase dentro do filme, vendo os personagens bem de perto (a atriz Sigourney Weaver com sua boca meio torta, puxando sempre para o lado direito). Isso impressiona. Às vezes dá a sensação de estarmos num teatro vendo o desenrolar da peça não da plateia, mas sim do palco mesmo, com a cara dos atores bem perto da nossa. Os efeitos visuais, as criaturas digitais e os ambientes virtuais são impressionantes. Nesse quesito os norte-americanos são insuperáveis.

Mas é só isso. O resto é déjà vu. Até mesmo essa coisa do 3D. Alguns podem achar engraçado ou até ridículo o que vou dizer, mas há algum tempo o Maurício de Souza lançou umas revistinhas da Mônica com o recurso do 3D, vocês se lembram? Dava um trabalhão danado para conseguir enxergar os desenhos em profundidade, em terceira dimensão. É óbvio que a estrutura usada por Cameron é de outra natureza. No caso do cinema, ou do filme Avatar, chega um momento em que a proximidade com as imagens é tanta (e é uma overdose de imagens), que causa um certo mal-estar. Saí do cinema com dor de cabeça. Bom, pode ser por causa da sinusite. Ou não?

*Este texto foi escrito antes da entrega do Oscar. Parece-me que a premiação que coube ao filme Avatar corrobora em parte o meu ponto de vista.
* Meus filhos criticaram duramente este meu texto, por isso levei um certo tempo criando coragem para publicá-lo. Disseram que quem gosta desse tipo de filme sabe dos clichês e não se importa com eles. Disseram que é um filme de entretenimento e é assim mesmo, não cabendo, nesse caso, comentários críticos.

(*)Geraldo Lima é autor dos livros A noite dos vagalumes (contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Cultural, FCDF), Baque (contos, LGE Editora/FAC), Nuvem muda a todo instante (infantil, LGE Editora) e UM (romance, LGE Editora/FAC). Publicará, pela Editora Multifoco, o livro de micronarrativas Tesselário. Blogs: baque-blogdogeraldolima.blogspot.com e www.o-bule.blogspot.com - colaborador do Jornal de Sobradinho

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